domingo, 3 de janeiro de 2010

O ENSINO DE ARTES PLÁSTICAS EM CAMPINAS - ARTISTAS EDUCADORES - 5ª parte - SÍLVIA MATOS























O Ensino Artístico Infantil

A primeira informação sobre o estímulo à arte infantil, em Campinas, surge em 1937, com o 1º Salão de Arte Infantil, organizado por Célia Duarte, Salvador Caruso e José de Castro Mendes. Infelizmente não existem maiores informações sobre esta exposição no sentido de elucidar a origem dos desenhos expostos.

Em 1949, chega em Campinas a professora Maria da Conceição de Lima Horta e Verri para ocupar a cadeira de desenho pedagógico do Instituto de Educação Carlos Gomes. Anteriormente, na cidade de Franca, havia feito pesquisas relativas à arte infantil. Assim, perseguindo suas pesquisas em Campinas, apresentou na comemoração do cinqüentenário da então Escola Normal ,hoje Instituto de Educação Carlos Gomes, em 1954, uma exposição de desenhos infantis. A exposição mostrava uma série de desenhos feitos por crianças, organizados de acordo com as idades e as fases da evolução do desenho em que se encontravam as crianças.
Nessa mesma ocasião, o Centro de Ciências, Letras e Artes ofereceu um curso de artes plásticas ministrado pelo professor Renato Righeto. O curso incentivava a livre expressão das crianças e eram, na sua maioria, ministrados ao ar livre.
Em 1961, um jovem artista, Egas Francisco, também se interessa pelo ensino artístico infantil e, como Righeto, resolve trabalhar com as crianças, ao ar livre. Naquela época, a cidade de Campinas era suficientemente pacata para permitir ao artista sair com um bando de crianças, de 5 a 13 anos de idade, para se instalar em algum canto para pintar. O Largo do Rosário era um desses locais e era também o lugar onde se concentravam inúmeros garotos engraxates. O contato natural entre alunos e engraxates acabou ocorrendo e, assim, surgiu o Curso dos Engraxates e logo a seguir o dos Jornaleiros. Esse trabalho pioneiro, de grande impacto social, envolvendo engraxates e jornaleiros, com idades variando entre oito e dezesseis anos, durou até 1962.
Também, no Conservatório Musical Campinas sugiram, em 1970 por iniciativa de Wanda Rosa, cursos de artes plásticas para crianças e adolescentes. Carioca, inspirando-se na Escolinha do Rio de Janeiro de Augusto Rodrigues, Wanda Rosa organiza no Conservatório Campinas, então pertencente à Pontifícia Universidade Católica de Campinas, cursos de arte para crianças de 3 a 9 anos e de 9 a 13 anos. O objetivo central de todos esses cursos era atender cada aluno individualmente, desenvolvendo seu potencial criador, ao mesmo tempo em que se incentivava o trabalho em equipe, através da aprendizagem da técnica. Foi o sucesso desses cursos que possibilitaria em 1974 a criação do Curso de Artes Plásticas e Desenho da PUC-Campinas, também por iniciativa de Wanda Rosa.
Berenice Toledo, em 1973, foi convidada por Bernardo Caro – seu professor na ocasião – para lecionar arte para crianças na Galeria Girassol. Aceitando o convite, deixou o Conservatório “Campinas” para se dedicar inteiramente ao trabalho na Galeria. Lá, juntamente com Raquel Bolsonaro Penteado, lecionou durante dois anos para crianças de 3 a 13 anos.
Quando a Galeria Girassol fecha, Bernardo Caro, tendo como sócias as professoras Raquel e Berenice, monta a escola Convívio de Arte. Nela, o esquema de ensino continuou o mesmo da antiga Galeria Girassol. A escola Livre Convívio de Arte funcionou até 1980, tendo assim tido seis anos de dedicação ao ensino e desenvolvimento da arte em Campinas.
Posteriormente, Berenice foi professora da Pontificia Universidade Católica de Campinas e terminou sua carreira como docente do Instituto de Artes da Unicamp.
Outro artista que dedicou parte de seu tempo ao ensino de artes às crianças é Clodomiro Lucas. Clodomiro na juventude foi aluno da escola do Sr. Olavo, de Thomaz Perina, e participou do Grupo Hoje. Por intermédio da Secretaria de Cultura, em 1976, Clodomiro implantou um curso livre de arte infantil, que era desenvolvido na praça, mais especificamente ao redor do coreto do jardim Carlos Gomes. Nele, as crianças podiam trabalhar à vontade nas manhãs de domingo. Devido à localização central da praça, dezenas de crianças de todas as classes sociais passaram a freqüentar o curso. Sem receber nenhuma remuneração, Clodomiro, com a colaboração de Mário Levy, realizava tal trabalho simplesmente pelo interesse artístico de poder desenvolver o gosto das crianças pela arte.
Cumpre ainda ressaltar o trabalho de Suely Pinotti, no que se refere ao ensino de artes plásticas para crianças e adolescentes. Nos anos 60, funcionaram, em várias escolas públicas do Estado de São Paulo, os grupos experimentais dos ginásios vocacionais que davam um grande ênfase à arte. Suely Pinotti, tendo trabalhado em São Paulo num desses ginásios vocacionais, traz para as escolas públicas de Campinas suas experiências nessa área.
Nesta parte do trabalho veremos também dois artistas jovens, cada um com passado diferente do outro em relação às influências recebidas na área artística e analisaremos como encaram o ensino de arte para crianças, nessa década de 80. São eles Paulo Cheida Sanas e Zay Pereira.
Paulo Cheida Sans é um artista que começou sua carreira artística em Campinas, desde criança, bastante incentivado por seus pais e por vários artistas.Criança ainda, teve como primeiro professor Egas Francisco. Na adolescência, no curso ginasial, Biojone. Teve ainda grande incentivo de Maria Helena Motta Paes e Clodomiro Lucas. No curso superior, foi aluno de Bernardo Caro, Berenice Toledo, Alberto Teixeira e Piki, entre outros.
Além de artista bem sucedido, Cheida Sans preocupa-se com a educação artística de crianças, adolescentes e adultos. Para ele, a “função do arte-educador é `dominar`, no bom sentido, a criatividade do alunos” . O aluno já traz dentro de si a arte, cabendo ao arte-educador a função de faze-la desabrochar e desenvolvê-la.
Atualmente, Paulo Cheida Sans é professor do Departamento de Artes Plásticas do Instituto de Artes e Comunicação da PUC-Campinas.

Zay Pereira é outro artista jovem que, em Campinas, dedicou-se ao ensino de arte para crianças. Já adulto tomou conhecimento da arte contemporânea no Atelier Áster, em São Paulo, onde esteve em contato com Walter Zanini, Regina Silveira, Julio Plaza, Leon Ferrari e Evandro Carlos Jardim. Daí para frente, sua maior escola foi estar o tempo todo em contato com a arte, através de exposições, leitura e contatos pessoais com artistas. Em Campinas, em 1981, montou a Arteria, um atelier onde crianças, jovens e adultos tinham aulas de artes plásticas. A Arteria tinha como objetivo desenvolver o lúdico da arte, através da busca de soltura do traço. Segundo Zay, como as pessoas tinham características próprias no modo de falar, nos gestos, no andar, nos trejeitos, elas deveriam ter, também, sua maneira própria de desenhar. Assim, a individualidade e a criatividade devem ser respeitadas e desenvolvidas. Na Arteria, trabalhou junto com Zay, Malú Neves que atualmente é uma das coordenadoras da Galeria Arte da Unicamp. Zay e Malú tinham idéias muito parecidas sobre como desenvolver o trabalho em arte com crianças. A experiência dos dois durou até 1983, quando a Arteria foi fechada.
Nota: Tenho colocado um pequeno resumo de cada capítulo. Quem se interessar pelo todo pode entrar no meu site: www.silviamatos.art.br/livros_e_artigos.htm

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