quarta-feira, 22 de abril de 2015

Anotações sobre os pecados


CURADORIA:  MARCO DO VALLE

 Recebi o convite para trabalhar com o Grupo Antropoantro com esta proposta aqui apresentada e o fizemos com muito empenho de todos. Trata-se de um projeto inédito no sentido de não ter sido ainda apresentado ao público. Nesta exposição teremos: escultura, pintura, objeto, instalações e vídeo. Esta diversidade qualifica a exposição que não se pretende homogênea. Nos trabalhos não se encontra, exatamente, uma visão religiosa ou teológica dos conceitos e da história dos pecados como tentação, mas sim um conjunto de anotações que envolvem artes plásticas, literatura, metalinguagem, pós-modernismo e conceitos estendidos destes pecados por cada uma das artistas. A abordagem como uma espécie de atualização destes pecados entendidos na vida contemporânea. Claro que a moral e a estética mudaram, ficando a arte de hoje menos sensível a ética que em outros tempos. Os trabalhos destas artistas não pretendem ser uma divulgação de empenho moral, mas apontam como anotações ou visões deste mundo contemporâneo. Cada uma das artistas mergulha estes temas ou pecados no mundo contemporâneo. Com isto, revelam, ainda que por pouco tempo, por oposição ou indiferença, nossa percepção do que vivemos aqui e agora.

 Marco do Valle
Curador

17/07/2014.
                                         PREGUIÇA DE LALAU MAYRINK

Título: Elogio å Preguiça ou Homenagem a Macunaíma  2014

Técnica: desenho/bordado
Material: Três redes rústicas, tecido de algodão, linha
Tamanho: 300 cm x 140 cm (cada rede)

 
                       



Elogio å Preguiça é o que é: um elogio ao pecado que impede outros pecados de serem cometidos. Uma homenagem a Macunaíma, o herói sem nenhum caráter de Mário de Andrade e sua frase bordão "Ai, que preguiça!".

 Na época da produtividade e do elogio ao trabalho massacrante, em que o lazer passa a ser determinado pelo intervalo "merecido" e "ganho" entre períodos de trabalho duro, lazer governado pelo marketing das férias fabricadas (no Caribe, em Miami, em Disneyworld e assemelhados), um elogio å preguiça pura e simples - ao ócio mal visto e que se tenta banir do mundo contemporâneo - faz-se necessário.

 A rede é o símbolo desse ócio que permite a criatividade aflorar. O bordado, trabalho gratuito ou mal pago e pouco considerado, reforça essa idéia de ócio.
                                                                          LALAU MAYRINK

Postado por Sílvia Matos

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