quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O COMÉRCIO ILEGAL DE OBRAS DE ARTE

Transcrevemos abaixo trechos de uma reportagem que está na página da Globo (G1) de hoje, em que se fala sobre o comércio ilegal de obras de arte no mundo, um tema que entrou em pauta após o roubo do MASP:

Segundo Jorge Pontes, coordenador da Interpol no Brasil, o crime movimenta tanto recurso quanto os tráficos de arma, drogas e animais silvestres.

"O comércio de obras de arte furtada ou roubada é uma atividade que não tem formalização. Não é possível mensurar com exatidão o tamanho do mercado ilegal, pois não há apreensão de peças como acontece com drogas e armas. O que posso afirmar é que esse tipo de crime está entre os que mais movimentam recursos no mundo", disse Pontes.

Ele afirmou ainda que há três vertentes de crimes envolvendo obras de arte no Brasil. "A primeira é o ataque a peças sacras centenárias. A segunda está focada nas bibliotecas e acervos de museus. Essas duas frentes abastecem o mercado interno."

Pontes disse que o crime ocorrido no Masp se encaixa na terceira vertente identificada pela Interpol. "É o roubo e furto de obras-primas de grandes mestres. Quem encomenda ou fica com uma obra dessas tem o chamado prazer solitário, pois jamais vai poder dizer que é dono de tal peça. Por mais fechado que seja seu ciclo de relacionamento, não poderia haver ostentação."

José do Nascimento Júnior, diretor do Departamento de Museus do Ministério da Cultura, disse que a Europa e China fazem parte da principal rota de obras de arte contrabandeadas no mundo. "Com o fim do sistema socialista no Leste Europeu, o contrabando de obras de arte emergiu com mais força e acabou se tornando uma ferramenta de lavagem de dinheiro das máfias russa, italiana e chinesa."

"Isso mostra que deve haver uma investigação permanente, um trabalho de inteligência muito forte e a integração das informações de segurança entre as esferas de poder federal, estadual e municipal", disse Nascimento. "Com a globalização, advento da internet e a organização da polícia no mundo, a recolocação das peças roubadas ou furtadas jamais conseguiriam ser legalizadas como ocorria no passado. Não há como um crime desses cair no esquecimento", disse o coordenador da Interpol no Brasil.

Para Nascimento, é difícil estabelecer o perfil do receptador de obras de arte contrabandeadas. "É o chamado crime de distinção. São pessoas que gostam e entendem de arte, conhecem o valor de cada peça e têm um altíssimo poder aquisitivo."

"Ainda falta no Brasil uma polícia especializada em obras de arte, que só cuide desse tipo de crime. Temos essa carência e que deve ser resolvida. Não será com a prisão de duas pessoas que se vai resolver o problema ocorrido no Masp. Nem mesmo na identificação e prisão de um mandante no Brasil. O caminho é bastante longo", afirmou Nascimento.

Reportagens de hoje dão conta de que a polícia prendeu dois dos ladrões que assaltaram o MASP - simples ladrões de carros com ficha policial - cujo nível de escolarização não alcança a quarta série do Ensino Fundamental e nada entendem de arte. O terceiro assaltante já foi identificado e está sendo procurado e a polícia busca identificar o intermediário, que ofereceu 5 milhões pelo roubo e que visitava o esconderijo das telas num carrão que chamava atenção na vizinhança pobre. As telas foram encontradas numa casa simples, da periferia de São Paulo, escondidas atrás de um armário. Já estão de volta no MASP e serão expostas amanhã, quando o museu reabrir com novos equipamentos de segurança doados por uma empresa.

Lembrei-me agora de uma visita a um museu americano (acho que na Filadélfia) na década de 80. Um visitante se aproximou de um quadro e imediatamente o alarme disparou e a sala se encheu de guardas... Veremos isso alguma vez acontecer por aqui?

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