segunda-feira, 8 de novembro de 2010

"Ao conceitualizar a arte que ultrapassa o objeto, Oiticica mantém-se fiel ao corpo" - Paula Braga

Transcrevo, aqui, alguns parágrafos do texto Conceitualismo e Vivência, de Paula Braga, do livro Fios Soltos: a arte de Hélio Oiticica (Paula Braga (organização). - São Paulo: Perspectiva, 2008), que me chamaram a atenção:

"O catálogo de Information [exposição no MoMA-NY, julho-setembro, 1970, da qual Oiticica participou] é um exemplo do uso que vários artistas passaram a fazer de publicações impressas no final da década de 1960, usando-as como espaço para exposição, mais adequado a suas obras do que galerias e museus. Cada artista pôde escolher como gostaria de ser 'representado' no catálogo, o que talvez tenha inspirado a declaração de Oiticica no catálogo: 'eu não estou aqui representando o Brasil nem qualquer outra coisa. As idéias de representar-representação-etc. acabaram [...] é importante que as idéias de ambiente, participação etc., não sejam limitadas a soluções de objeto: elas deveriam propor o desenvolvimento de atos de vida, e não uma representação a mais (a idéia de 'arte')'.
Apesar de conviver, em Information e nas páginas da Studio Internacional, com artistas hoje muito vinculados ao conceitual [...] Oiticica deixou claro seu desinteresse pelo conceitualismo: 'Detesto arte conceitual, nada tenho a ver com arte conceitual. Pelo contrário, meu trabalho é algo concreto, como tal'. Provavelmente, ao dizer que detestava arte conceitual, Oiticica estava se referindo ao conceitualismo linguístico de Kosuth - criticado na época por outros artistas - e å importância de executar seus projetos, criar o ambiente ou objeto que iria interagir com um corpo: 'Para mim o conceito é uma etapa, como o sensorial, o ambiental, etc. que no fundo são conceitos também; o que acho ruim quando o conceito é tratado como objeto-fim artístico, é que passa a ser redundante, fechando-se em si mesmo [,,,] eu quando faço um projeto é para ser construído mesmo; não me satisfaz o reconhecimento da possibilidade do mesmo.'." (p. 260-261)

A autora nos informa que, no mesmo catálogo, Oiticica publica o resumo de um texto seu - The Senses Pointing Towards a New Transformation -, que deveria ter sido publicado no Studio Internacional, mas não foi. E continua:

"Logo no primeiro parágrafo de 'The Senses Pointing...', Oiticica esclarece que sua proposta de elaboração de obras que diminuíssem a ênfase na visão e incluíssem todos os sentidos era muito mais do que uma simples crítica ao esteticismo: era a proposta de abrir a possibilidade da arte influir no comportamento dos indivíduos. Para transformar comportamento, apelar apenas para a visão não seria suficiente. Comportamento e pensamento caminham juntos e pensamento se faz com o corpo todo, não apenas com os olhos." (p.264)

E agora eu pulo para a frase que fecha o texto de Paula Braga:

"(...) Ao conceitualizar a arte que ultrapassa o objeto, Oiticica mantém-se fiel ao corpo." (p.276)

Vale a pena ler tudo. E hoje não tem imagem...
Lalau Mayrink